quarta-feira, 25 de abril de 2012

TRADIÇÃO, RESGATE E TRANSFORMAÇÃO


                                                                        Texto e fotos: Silzi Mossato

Mestre Zeca é o último dos antigos tocadores de rabeca da Ilha dos Valadares. Aorélio Domingues, o primeiro da nova geração. Não foi aluno de Zeca, mas é parceiro na formação da nova geração de cantores e tocadores de fandango. O menino irrequieto cresceu na Ilha. Ao lado do avô Rodrigo Domingues vivenciou não só a dança e a música de sua gente, mas o fabricação dos instrumentos. Observando e imitando os antigos, aprendeu a tocar rabeca e viola, mas também a valorizar a própria gente e suas manifestações.

Marcio Pontes R. Ribeiro (aluno e aprendiz na oficina de construção de instrumentos), Aorélio, Mestre Zeca e Luis Fabiano Corujinha (aluno de rabeca)


 Mestre Zeca, Luis Fabiano Corujinha, Fernando Nunes Cordeiro (aluno de viola de fandango) e João Batista de Andrade (aluno de viola de fandango)





Aorélio cresceu, deixou a Ilha, cursou Artes Plasticas na EMBAP – Escola de Música e Belas Artes do Paraná - ganhou os salões de desenho do estado e voltou às origens para não deixar que o grande patrimônio imaterial de sua infância e adolescência desaparecesse.
Na direção da Casa Mandicuera cria e recria os instrumentos, buscando aperfeiçoar a arte. E a ensina. Mas vai além. Toca, canta, coordena atividades do espaço que recebe e acolhe participantes e visitantes.

Entre a distribuição de atividades, a contribuição na aula dada por Mestre Zeca e a participação nas cantorias, conta causos, faz pegadinhas e fala das atividades da Casa Mandicuera, afirmando que “ a proposta é fazer a gurizada viver o universo do fandango”. E em 28 horas de convivência, entre o inicio da tarde do sábado, dia 31 de março e o final da tarde de domingo, 01 de abril de 2012, constatamos que a proposta se realiza plenamente. E vai além. A Casa recebe e apoia outras manifestações. Durante o almoço feito no fogão à lenha, a cantoria do fandango dá lugar às modas de viola, entoadas por alunos e integrantes do grupo. Na Capela e Museu Vivo do Fandango, construída pelos participantes do grupo, os ensaios para a Romaria do Divino entram na noite. Na tarde de domingo, duas encenações da Tato Criação Cênica lotam o auditório montado especialmente para o evento.
Detalhes da Capela:
Representação do Divino e as bandeiras da Romaria

                                                Aorélio mostrando os objetos do museu


Em tempos de homogeneidade forjada pela desqualificação e consequente desaparecimento de muitas manifestações populares, a Casa Mandicuera dá lição a ser seguida. Resgata e transforma a própria cultura, oferece espaço de convivência e aprendizado, valoriza e dá sustentação aos talentos emergentes. E do meu ponto de vista, Aorélio exercita na Casa, a função paterna, organizativa e estrutural, que tem desaparecido e deixado crianças, jovens e adultos sem rumo.
Moda de viola; João Batista e Fernando com acompanhamento de Miguel Martins (Mamangava)

Mestre Zecca e mamangava com Eloir Paulo Ribeiro de Jesus (Poro), presidente da Associação,
 
 Ensaio de Marcio e Denis Lang (fabriqueiro, toca viola e estuda rabeca)

Durante o próximo mês integrantes do grupo Mandicuera percorrem parte do litoral paranaense com a Romaria do Divino. A trajetória será divulgada pelo site www.mandicuera.com. neste período serão postados diferentes vídeos das atividades na Casa Mandicuera, pelo Projeto Interface.

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